— E onde é que estão as asas? — pergunta o João.
— Chiu! — diz a mãe.
— Mas o avô disse-me que, quando morremos, ganhamos asas.
— Chiu — repete a mãe.
— Ele não tem nenhumas? — pergunta o João cheio de medo. — Ainda lhe vão crescer?
— Chiu! – torna a mãe.
— Mas o avô disse que já estava feliz por ir voar — disse o João. — Só que sem asas, ele não consegue!
A mãe chega-o para si e põe-lhe a mão na boca.
— Por favor, está calado.
— O melhor é levá-lo lá para fora — diz em voz baixa a tia Mimi. — Está a incomodar.
O tio Francisco empurra-o à sua frente para fora da porta.
— Mas o avô nunca mentiu — grita o João lá fora.
— Agora vais portar-te bem e vais subir para o teu quarto — diz o tio Francisco.
João agarra-se com força ao corrimão das escadas.
— Se não tem asas, é porque não está morto — diz.
— Disso eu não percebo nada — diz o tio Francisco. — Disso nenhum de nós percebe.
— Mas o avô percebe! — diz o João — Podes perguntar-lhe!
— Está bem — diz o tio. — E agora porta-te bem e vai para o teu quarto.
— Vais ver que ele não mente — diz o João.
E sobe as escadas calmamente.
Lene Mayer-Skumanz (org.)
Hoffentlich bald
Wien, Herder Verlag, 1986
Tradução e adaptação
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